O tráfico de africanos para o Sul do Brasil através dos registros de batismo (RS, 1780-1850): regiões Porto-Charqueadora e Campanha
Resumo
Na virada do século XVIII para o século XIX, ocorreu uma imigração intensa de luso-brasileiro para a fronteira sul da Brasil, região ocupada pelos guaranis. A partir de tal invasão, marcada pela apropriação das riquezas (leia-se, terras e gado) dos naturais, os luso-brasileiros estabeleceram fazendas voltadas para a pecuária, a qual se tornou a maior produtora de gado do Brasil oitocentista. Tal produção era encaminhada para as charqueadas do litoral sul do RS, que se tornou a maior produtora de carne manufaturada do Brasil no século XIX, e cujo produto era exportado para as plantations do atual sudeste e nordeste, Cuba, EUA, etc. É neste momento que não só a economia sulina se interliga à economia do restante da colônia, mas que o RS passa a participar, em grande medida, do comércio transatlântico de africanos escravizados. Neste contexto, a presente comunicação tem como foco a análise do tráfico de africanos para o sul da América portuguesa e, depois, Império do Brasil, com foco no RS entre 1780 e 1850. Para tanto, exploramos os registros de batismo das regiões Porto-Charqueadora e Campanha. Portanto, mais precisamente, essa pesquisa se propõe a investigar quantos escravos africanos foram levados às pias batismais, procurando responder: afinal, os batismos servem para o estudo do tráfico de africanos escravizados? Ao mesmo tempo, também iremos apreciar o percentual de africanos (frente aos nascidos no Brasil) batizados, o sexo dos mesmos, de que macrorregiões da África migraram, etc. No atual estágio da pesquisa, já coletamos mais de 14.300 registros de batismos de escravos (mais de 2.500 deles de africanos). Em primeiro lugar, sim, podemos dizer que os registros de batismos são fontes interessantes para análise desse processo histórico. Por sua vez, embora haja um predomínio de batizandos de nações da África Central (Congo, Benguela, etc.), o percentual de Minas/Nagôs não é desprezível, o que traz novos questionamentos à pesquisa e também à própria formação do RS.