Escravidão e tráfico de africanos através dos registros de batismo (Rio Grande do Sul, 1780-1850)

  • Sthefany Lavinia Mello Costa Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Canoas
  • Marcelo Santos Matheus Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Canoas
Palavras-chave: escravidão, tráfico de africanos, registro de batismo

Resumo

Esta comunicação se propõe a divulgar os resultados parciais da pesquisa “Escravidão e tráfico de africanos para o Rio Grande do Sul (1780-1850)”. Nesta última, o objetivo é verificar quantos escravos africanos foram levados às pias batismais nas diferentes capelas do Rio Grande do Sul, analisando a representatividade de tal fonte para a análise do próprio tráfico de africanos para o sul da América portuguesa e, depois, para o sul do Império do Brasil. O recorte temporal inicia em 1780, quando a economia sulina começava a se integrar à economia colonial de maneira mais orgânica, terminando em 1850, quando o tráfico atlântico de seres humanos para o Brasil foi definitivamente proibido. Para tanto, as fontes exploradas são os registros de batismo – nessa comunicação, mais precisamente, os batismos analisados são os das capelas das regiões Porto-charqueadora (Rio Grande, Pelotas, São José do Norte, Estreito e Povo Novo e Taim) e Campanha (Alegrete, Bagé, São Gabriel, Uruguaiana e São Gabriel). Do ponto de vista metodológico, as informações contidas nos batismos são transcritas e armazenas em um banco de dados construído a partir de uma tabela do Excel for Windows. Estas informações foram divididas em diferentes categorias analíticas: nome do batizando, se africano ou nascido no Brasil, a nação e/ou o grupo de procedência (no caso dos africanos), etc. Com efeito, até o presente momento já foram fichados mais de 14 mil registros de batismos. Como está sendo possível perceber, os batismos são uma fonte importante para verificar a quantidade de africanos que viveram e trabalharam no RS no colonial tardio e, principalmente, na primeira metade do século XIX, já que cerca de 18% do total são batismos de africanos. Dentre estes, a maior parte são de escravizados da África Central (Congo, Benguela, Cabinda, Angola, etc.), ou seja, do tronco linguístico bantu, embora a representatividade dos africanos ocidentais (em especial os Minas) seja significativa também. Nesse sentido, a partir destes resultados, será possível conhecer de maneira mais refinada o passado dos africanos escravizados que foram comercializados para o Rio Grande do Sul, identificando de qual região do continente africano e de que cultura/sociedade os mesmos vieram. Assim, será possível entender as formas de resistência, as relações sociais produzidas, dentre outros aspectos da vida dos africanos no sul do Brasil, bem como questionar a construção da memória construída – e reproduzida no senso comum (leia-se, um estado branco e trabalhador, onde o passado escravista foi pouco importante) – sobre a formação social e econômica do Rio Grande do Sul.

 

Biografia do Autor

Sthefany Lavinia Mello Costa, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Canoas

Estudante do curso técnico em Adminitração integrado ao ensino médio do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Bolsista do projeto de Pesquisa Escravidão e tráfico de africanos através dos registros de batismo (Rio Grande do Sul, 1780-1850).

Marcelo Santos Matheus, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Canoas

Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com estágio doutoral na Universidade de Brown (EUA). Professor de História do IFRS. Pesquisa História do Brasil Império, com ênfase nos temas Escravidão, Tráfico, Hierarquia e Desigualdade Social e Liberdade. Autor das obras "Fronteiras da Liberdade: escravidão, hierarquia social e alforria no extremo sul do Império do Brasil" [2012] e "A produção da diferença: escravidão e desigualdade social ao sul do Império brasileiro (c.1820-1870)" [2021].

Publicado
2023-11-27
Seção
[Comunicação] Ciências Humanas